quinta-feira, 3 de março de 2011

Lylibélula fala a você: sinta isso!




Osho
A Criança Interior


"Vem, te direi em segredo aonde leva esta dança"
- RUMI -
[ poeta Sufi]


      Querido Osho,

      Você poderia, por favor, falar sobre o espírito brincalhão? Eu pergunto porque existe um lindo garotinho dentro de mim que eu negligenciei por muito tempo.
Este garotinho é brincalhão, curioso e extático. Mas, na maior parte do tempo eu não lhe permito perder o controle. Por favor, comente.

            "Anand Gogo, o espírito brincalhão é uma das partes mais reprimidas dos seres humanos. Todas as sociedades, culturas e civilizações têm sido contra o
espírito brincalhão porque a pessoa brincalhona nunca é séria. E a não ser que a pessoa seja séria, não é possível dominá-la, não se consegue fazer com que ela se
torne ambiciosa, que deseje poder, dinheiro e prestígio.

            A criança nunca morre em quem quer que seja. Ela não morre quando você cresce; a criança permanece. Tudo o que você foi, ainda está aí dentro. E assim
permanecerá até seu último suspiro.

            Mas a sociedade sempre tem medo de pessoas não-sérias. Pessoas não-sérias não terão ambição por dinheiro ou por poder político. Elas irão curtir mais
a existência. Mas, curtir a existência não irá lhe trazer prestígio, não o tornará poderoso, não irá satisfazer o seu ego, e todo o mundo do homem gira ao redor
da idéia do ego. O espírito brincalhão é contra o seu ego. Você pode experimentar e ver. Simplesmente brinque com crianças e você perceberá que seu ego estará desaparecendo
e que você estará se tornando uma criança novamente. Isto é verdadeiro não apenas para você. Isto é verdadeiro para qualquer um.

            Porque a sua criança interior foi reprimida, você reprimirá as suas crianças. Ninguém permite que suas crianças dancem, cantem, gritem ou pulem. Por
motivos corriqueiros: talvez alguma coisa possa ser quebrada, talvez elas possam molhar a roupa na chuva se correrem lá fora. Por estas pequenas coisas, uma grande
qualidade espiritual - o espírito brincalhão - é totalmente destruída.

            A criança obediente é elogiada pelos seus pais, pelos professores, por todo mundo, enquanto a criança brincalhona é condenada. O seu espírito brincalhão
pode ser absolutamente inofensivo, mas ele é negado porque potencialmente existe um perigo de rebelião. Se a criança continuar crescendo com total liberdade para
ser brincalhona, ela vai acabar sendo um rebelde. Ela não será facilmente escravizada, ela não se alistará facilmente num exército para destruir pessoas ou ser destruída.

            Uma criança rebelde acabará se tornando um jovem rebelde. Depois você não conseguirá forçá-lo a se casar, a aceitar um determinado trabalho; e a criança
não poderá ser forçada a preencher os desejos e vontades não realizados de seus pais. Um jovem rebelde seguirá o seu próprio caminho. Ele viverá a sua vida de acordo
com seus próprios desejos internos e não de acordo com os ideais de outras pessoas.

            O rebelde é basicamente natural. A criança obediente está quase morta; então os pais ficam muito felizes porque ela está sempre sob controle.

            O homem é estranhamente doente: ele quer controlar as pessoas. Controlando as pessoas o seu ego fica satisfeito, ele é alguém especial. Ele próprio também
quer ser controlado, porque assim ele não é mais responsável.

            Por todas essas razões, o espírito brincalhão é sufocado, é esmagado desde o início.

            Você está perguntando, ‘existe um lindo garotinho dentro de mim que eu negligenciei por muito tempo. Este garotinho é brincalhão, curioso e extático.
Mas, na maior parte do tempo eu não lhe permito perder o controle.’ Qual é o medo? O medo foi implantado pelos outros: sempre mantenha o controle, sempre permaneça
disciplinado, sempre respeite os mais velhos. Siga sempre o padre, os pais e os professores – eles sabem o que é certo para você. Nunca é permitido à sua natureza
ter sua própria voz.

            Aos poucos você começa a carregar uma criança morta dentro de si. Esta criança morta dentro de si, destrói o seu senso de humor: você não consegue rir
com a totalidade de seu coração, você não consegue brincar nem curtir as pequenas coisas da vida. Você se torna tão sério que a sua vida, ao invés de se expandir,
começa a se encolher.

            Eu sempre desejei saber porque o cristianismo se tornou a maior religião do mundo. Por várias vezes eu cheguei à conclusão de que é por causa da cruz
e do Jesus crucificado – tão triste, tão sério... Naturalmente você não pode esperar que Jesus estivesse sorrindo na cruz. E milhões de pessoas vêem uma semelhança
entre elas mesmas e Jesus na cruz.

            A sua seriedade e a sua tristeza foram as razões para que o cristianismo se espalhasse mais do que qualquer outra religião.

            Eu gostaria que nossas igrejas e templos, nossos mosteiros e sinagogas se tornassem não-sérios, fossem mais brincalhões, cheios de risos e alegria. Isto
traria para a humanidade uma alma mais saudável e mais integrada.

            Mas você está aqui... Pelo menos, sendo meu sannyasin, você não precisa carregar a sua cruz sobre seus ombros. Abandone a cruz. Eu ensino vocês a dançar,
a cantar e a brincar.

            A vida deve ser, a cada momento, uma criatividade preciosa. O que você cria não interessa – pode ser apenas castelos de areia na praia – mas o que você
fizer, deverá brotar de seu espírito brincalhão e de sua alegria.

            Nunca permita que sua criança morra. Alimente-a e não tenha medo de que ela fique fora de controle. Para onde ela poderá ir? E mesmo se ela ficar fora
de controle – e daí?

            O que você pode fazer fora do controle? Você pode dançar feito um louco, rir feito um louco, pode pular e correr feito um louco. As pessoas podem pensar
que você está louco, mas isto é problema delas. Se você está curtindo isto, se a sua vida está sendo nutrida por isto, então não interessa, mesmo se isto se tornar
um problema para o resto do mundo.

      A vida é uma oportunidade tão valiosa; ela não deve ser perdida em seriedade. Guarde a seriedade para a sepultura. Deixe que a seriedade se desmorone na sepultura,
aguardando pelo dia do julgamento final. Mas não se torne um cadáver antes da sepultura.

            Eu me lembro de Confúcio. Um de seus discípulos lhe fez uma pergunta muito típica de milhares de pessoas: ‘Você poderia me dizer algo a respeito do que
acontece após a morte?’

            Confúcio disse, ‘Todos estes pensamentos a respeito da morte, você poderá refletir a respeito quando já estiver na sua sepultura, após a morte. Neste
exato momento, viva’

            Existe um tempo para viver, como existe um tempo para morrer. Não os misture, senão você perderá ambos. Neste exato momento, viva totalmente e intensamente;
e quando morrer, morra totalmente. Não morra parcialmente: um olho morre e o outro permanece olhando ao redor, uma mão morre e a outra continua procurando pela verdade.
Quando você morrer, morra totalmente... E reflita sobre o que é a morte. Mas neste exato momento, não desperdice tempo refletindo sobre coisas que estão muito longe:
viva este momento. A criança sabe como viver intensamente e totalmente, e sem qualquer medo de que vai perder o controle.

            Neste templo, lhe é permitido ser você mesmo, sem qualquer inibição. Eu gostaria que isto acontecesse em todo o mundo. Isto é apenas o começo. Aqui,
comece a viver momento a momento, totalmente e intensamente, cheio de alegria e brincadeira, e você verá que nada ficará fora de controle, que a sua inteligência
se tornará mais aguçada, que você vai se tornar mais jovem, que o seu amor vai se tornar mais profundo. E quando você voltar para o mundo, onde quer que você vá,
espalhe a vida, o espírito brincalhão, a alegria, o tanto quanto for possível – a todos os cantos da terra.

            Se todo o mundo começar a rir, curtir e brincar haverá uma grande revolução. A guerra é criada por pessoas sérias; assassinatos são cometidos por pessoas
sérias; suicídios são cometidos por pessoas sérias; os manicômios estão cheios de pessoas sérias. Simplesmente observe o dano que a seriedade tem causado aos seres
humanos, e você pulará logo para fora da seriedade e liberará a sua criança, que está dentro de você, esperando para brincar, cantar e dançar.

            Toda a minha religião consiste no espírito brincalhão.
            Esta existência é a nossa casa: estas árvores e estrelas são nossas irmãs, estes oceanos, rios e montanhas são nossos amigos. Neste imenso universo fraternal,
você está sentado feito uma estátua de Buda. Eu não prego um Buda de pedra; eu quero que você seja um Buda dançante.
            Os seguidores de Buda não gostarão disto, mas eu não me importo com o que os outros pensam. Eu simplesmente me importo com a verdade. Se a verdade não
sabe como dançar, ela está aleijada; se um Buda não é capaz de rir, algo está faltando; se um Buda não consegue se misturar com as crianças e brincar com elas, ele
chegou próximo da qualidade búdica, mas não está totalmente acordado. Algo ainda está dormindo.
            No Japão existe uma série de nove quadros e eles são tremendamente significantes. Na primeira pintura o homem perdeu seu touro. Ele está olhando ao seu
redor onde existem árvores e uma floresta densa, mas nenhum sinal do touro.

            No segundo, ele encontra pegadas do touro.
            No terceiro, parece que o touro está escondido atrás das árvores, apenas a sua parte traseira pode ser vista.
            No quarto, ele está próximo de alcançar o touro, que já pode ser visto totalmente.
            No quinto ele já pegou o touro pelo chifre.
            No sexto ele está brigando com o touro.
            No sétimo ele conquistou o touro. Ele está montado no touro.
            No oitavo ele está voltando para casa.
            No nono, o touro está no curral e o homem está tocando sua flauta.

            Nestes nove quadros está faltando um – eles vieram da China e lá, o pacote continha dez quadros. Quando eles foram trazidos para o Japão, o décimo foi
deixado de lado porque ele parecia ser muito ultrajante – e o décimo é o meu Buda.

            No décimo quadro, o touro está no curral e o Buda está indo para o mercado com uma garrafa de vinho. A mente japonesa pensa que isto seria demais: o
que as pessoas iriam pensar de um Buda com uma garrafa de vinho? Isto é ultrajante para a mente religiosa comum, mas para mim é o quadro mais importante de toda
a série. Sem ele a série fica incompleta.

            Quando alguém alcança o estado de Buda, então se torna apenas um ser humano comum. Ir para o mercado com uma garrafa de vinho é simbólico: simplesmente
significa que agora não há mais necessidade de se sentar em meditação; a meditação agora já está no coração; não há mais necessidade de ser sério. A pessoa encontrou
o que queria encontrar; agora é tempo de curtir. Aquela garrafa de vinho é um símbolo de curtição – agora é tempo de celebrar!

            Lembre-se sempre do décimo quadro. Não pare no nono. O nonoé belo, mas incompleto. É preciso um passo a mais... Simplesmente tocar a flauta não é suficiente.
....  dance loucamente!

            E Gogo, você tem um nome bonito .Qualquer coisa que faça estará apropriado ao Go...Go...


                                OSHO – The Rebellious Spirit – Capítulo 17 – pergunta n° 1
                                       Tradução: Sw. Bodhi Champak

      Copyright © 2006 OSHO INTERNATIONAL FOUNDATION, Suiça.
      Todos os direitos reservados.

O que me faz pensar sobre a vida!